Fernando Ortiz e a rede transatlântica de intercâmbios
Fernando Ortiz (1881-1969) desenvolveu uma obra pioneira que estabeleceu os fundamentos para o estudo...
De acordo com David Armitage, a história atlântica é, como o próprio oceano que lhe dá nome, um território fluido, em movimento contínuo e carente de fronteiras1. Essa fluidez projeta-se também, de acordo com ele, ao marco temporal. Surgida como subcampo definido de estudo no final do século XX, seu âmbito de referência seria, inicialmente, o da primeira modernidade (c. 1492-1815), anterior à era das revoluções. Entretanto, ao formular suas concepções, este subcampo foi assumindo modalidades diversas - a circum-atlântica (transnacional), a cisatlántica (nacional ou regional) e a transatlântica (internacional) -, bem como expandindo o marco temporal de referência de seus objetos para além daquela primeira modernidade. Paralelamente, também foi postulando, entre outros problemas, o da sua "genealogia" - uma das quais remeteria ao contexto da Guerra fria e à centralidade que o Atlântico desempenharia para uma noção de "civilização ocidental [...] vinculada mais à OTAN do que a Platão" -, assim como o da sua "anatomia" - da qual estariam excluídas "a história do comércio de escravos e da escravidão, [...] a história da África e dos africanos, e, de forma mais geral, das raças2".
Visto assim, o Atlântico aparece como um espaço problemático bem a propósito para a consideração da trajetória de um sujeito afrodiaspórico da modernidade tardia que, migrante nos Estados Unidos, se propõe a constituir uma coleção sobre cujas bases o relato historiográfico não apenas possa incorporar os espaços, anatomias e culturas deixados de lado pela historiografia canônica (anterior ao surgimento da história atlântica); como também, promover a constituição de redes transatlânticas que permitissem pensar, ainda hoje, como problemáticas as fronteiras sobre as quais os próprios coletivos afrodiaspóricos foram sendo concebidos, opondo o Atlântico norte ao Sul: em um primeiro momento, à América latina e, mais tarde, à África.
Propomos, a seguir, uma história transatlântica que, partindo de uma das margens desse Atlântico norte, se configura inicialmente como uma história cisatlântica, para transformar-se, graças à migração da personagem, Arturo Alfonso Schomburg, em história circum-atlântica que objetiva, pela agência da coleção (especialmente de fontes bibliográficas), cooperar no desenho de uma historiografia afrodiaspórica deveras internacional - promovendo o tratamento comparativo, em condições de igualdade com as dos relatos já instituídos - dos espaços e sujeitos deixados à margem por eles.
Arturo Alfonso Schomburg nasceu em San Juan de Porto Rico, em 24 de janeiro de 1874, um ano após a abolição da escravidão na Ilha. De acordo com o registro de batismo, lavrado na paróquia de São Francisco de Assis, era filho de María Josefa Schomburg e neto de Susana Schomburg; a primeira, de acordo com o filho, teria nascido livre em 1837, em St. Croix, à época ainda uma das Antilhas dinamarquesas (hoje Ilhas Virgens). Arturo Alfonso passou a infância em Cangrejos, bairro caracterizado historicamente como local de assentamento de populações quilombolas e migrantes, procedentes de outros arquipélagos caribenhos, bem como do interior de Porto Rico, e incorporado mais tarde à área metropolitana de San Juan. Nesse local de circulação e contato de diversas comunidades caribenhas, sua primeira língua foi o espanhol. Realizou sua formação escolar básica em San Juan e passou um período de sua adolescência nas Ilhas Virgens. De volta em Porto Rico, trabalhou na indústria do tabaco e foi discípulo de José Julián Acosta no Instituto de Segunda Enseñanza.
Migrou para Nova York em 1891. Ali se desempenhou como funcionário administrativo (primeiro de um escritório de advocacia e logo de uma companhia de seguros, na área de Wall Street) e frequentou aulas de inglês na Central Evening High School (na qual José Martí lecionava espanhol). Incorporou-se à Seção Porto Rico do Partido Revolucionário Cubano, formado por intelectuais e trabalhadores, especialmente tipógrafos e tabaqueiros, com o propósito de promover a independência das últimas colônias espanholas nas Américas. Foi secretário do clube Las dos Antillas, presidido por Martí e integrado também, como o PRC, por trabalhadores e intelectuais, exilados e emigrados do Caribe hispânico3. Dessa época data já o incômodo de Schomburg em relação ao nacionalismo criollista - versão "cordial" das ideologias da mestiçagem e do branqueamento racial, que irão ganhando progressivamente adeptos na América latina, entre o fim do século XIX e as primeiras décadas do XX - e ao valor semântico obsoleto das categorias em uso de que se ocupará em brevíssimo ensaio, "Creole/Criollo", de 19274.
Com a firma do Tratado de Paris, em 10 de dezembro de 1898, que pôs fim à Guerra hispano-americana, resultando na independência de Cuba e na recolonização de Porto Rico, inicia-se uma nova "migração" de Schomburg, de hispanoantilhano a west indian. Em termos de sociabilidade, essa migração significou para Schomburg o ingresso na loja maçônica Prince Hall, a mais antiga loja afrocaribenha nos Estados Unidos, fundada no século XVIII. Mas antes dessa data, por volta de 1895, tinha já iniciado a construção de sua coleção de documentos, manuscritos, publicações bibliográficas e hemerográficas, adquirida, ao longo de décadas, com o salário de funcionário da seção de correspondência da Bankers Trust, cargo que teria conquistado pelo seu domínio de diversas línguas (espanhol, inglês e francês) e que lhe permitia, paralelamente, manter um intercâmbio amplo e intenso em busca de informações sobre materiais para sua coleção, bem como sobre a provável existência de antepassados afro de personalidades destacadas na história transatlântica. Neste sentido, Schomburg se ocupa de pesquisar e logo publicar suas descobertas sobre os ancestrais africanos de personagens centrais para a história das artes e da política europeias, como Alexandre Dumas, Pushkin ou Alexandre de Médici, primeiro duque de Florença5.
Entretanto, o objeto de seu primeiro ensaio publicado é também aquele que define de modo mais específico o critério que dá sentido ao trabalho do colecionador: o Haiti e sua Revolução. Com efeito, para além do número e caráter significativo dos documentos de/sobre ela que Schomburg pode adquirir, essa revolução constituirá o que poderíamos chamar o paradigma que norteou tanto o desenho da coleção quanto, sobretudo, os propósitos a que Schomburg sempre quis destiná-la. Neste sentido, o título de seu primeiro ensaio publicado - "Is Hayti decadent?"6 - endereça aos seus contemporâneos desde o presente a questão do passado (e o estatuto) coloniais. O texto surge, neste sentido paradoxalmente, de uma viagem que Schomburg faz, como membro de uma equipe organizada nos Estados Unidos, para avaliar as possibilidades da exploração de minério na República Dominicana.
Em sintonia com as ações de exploração e escavação do minério, Schomburg antecipa neste texto o uso dos tropos arqueológicos que reaparecerão em seu ensaio mais conhecido, "The negro digs up his past", para expor a função, antes didática que polêmica, que o colecionador atribui ao seu arquivo e à história7. Nesta linha, o registro do discurso oficial estadunidense (que avalia potencialidades comerciais no terreno que invadirá, enfim, 10 anos mais tarde) combina-se com o da campanha jornalística já iniciada e que gira em torno à pergunta sobre uma outra potencialidade, fundamental: a da autodeterminação. Schomburg se serve, pois, destes supostos e os devolve sob a forma da interrogação retórica do título. O texto refrata, assim, o alvo do discurso oficial e oficioso dos interesses imperiais sem contradizê-lo abertamente, mas expondo, a partir dos mesmos argumentos mobilizados por ele, alternativas possíveis de consecução das promessas republicanas, respeitando o direito à autodeterminação.
Com este propósito, Schomburg traz à tona a história local: a) a da nação surgida de uma revolução de escravos que, concomitantemente, como nenhuma outra nação do continente, declarou a independência e aboliu a escravidão; b) certas modulações da poesia cívica, surgida no período imediato posterior às guerras de independência no continente, de função didática, ensinando a substituir a épica da guerra pela épica da agricultura; e, por fim, c) a solução técnica contemporânea: os afroestadunidenses formados no Tuskegee Institute de Booker T. Washington, para colaborar na solução prática da queda na produtividade da agricultura haitiana e, paralelamente, para mostrar que a cooperação afrodiaspórica pode ser mais eficaz e equitativa para ambas as partes, na medida em que respeita o direito à autodeterminação de uma delas, valorizando a formação técnica da outra8.
A proposta de Schomburg define uma tomada de posição: por um lado, no universo discursivo, pela prática de modulações na polêmica; e por outro lado, na perspectiva histórica, pela atenção a formas alternativas, coletivas, de reciprocidade e horizontalidade na produção e recepção (a agricultura, mas também a biblioteca), pensadas para além das comunidades imaginadas nacionais e numa orientação clara de releitura do passado desde o presente.
No marco dessa ação e cooperação afrodiaspórica, Schomburg conhecerá também, nesse período, um novo mentor: John Edward Bruce ("Bruce Grit") (1856-1924), nascido escravo em Maryland, jornalista e ativista, com quem funda em 1911 a Negro Society for Historical Research. São anos em que, sem tirar a atenção das encruzilhadas caribenhas, torna a ter uma atuação pública mais intensa, desta vez junto às comunidades afroamericana e afrocaribenha não hispânica. São significativos do primeiro aspecto, a publicação dos ensaios "Placid, a Cuban martyr" - sobre o poeta romântico e artesão, mulato livre, fusilado na devassa da suposta Conspiração "de la escalera", que teria por objeto reeditar em Cuba a Revolução haitiana; e "General Evaristo Estenoz" - sobre a Guerra racial de 1912, em que a República de Cuba ordenou ao seu exército a perseguição e morte dos líderes e simpatizantes do PIC-Partido Independente de Cor, primeiro partido político criado com critérios raciais nas Américas. Válido para ambas as personagens, o argumento contra o nacionalismo homogeneizador e totalitário. Nessa linha, citando Sebastián Morales, Schomburg dirá que Plácido foi um "mulato [...] com mais gênio e heroísmo que pátria9".
Já no que se refere ao segundo aspecto, o da atuação pública mais intensa junto a associações afroamericanas, cabe citar um importante ensaio programático de Schomburg, baseado em uma palestra proferida em um seminário de verão para professores no estado de Nova York: Racial integrity: a plea for the establishment of a chair of Negro history in our schools, colleges, etc. Publicado em uma das séries bibliográficas da Negro Society... e reproduzido, 20 anos mais tarde, na bem mais conhecida antologia editada pela escritora e ativista britânica Nancy Cunard, Negro, de 1934, o texto apresenta, pela primeira vez, uma sorte de inventário não exaustivo da coleção.
Nesse ensaio, cujo título induziria a pensar inicialmente em uma reflexão moral abstrata, o subtítulo vem logo a esclarecer os objetivos pragmáticos da proposta. Condizente com o contraponto instaurado entre título e subtítulo, o corpo do ensaio inverte a economia argumentativa habitual no Ocidente e, enformando a pulsão da polêmica, opera silenciando deliberadamente a historiografia dita universal - na qual a história da África e dos afrodescendentes, quando aparece, assume a forma de uma "nota de rodapé" -, e lista o que poderia entender-se como uma "cidade escriturária" da diáspora africana, constituindo assim uma nova série canônica.
Com efeito, nesse ensaio Schomburg vai enumerando obras escritas por africanos e suas diásporas em diversos campos das artes e das ciências, sem obliterar contradições ou quebras de expectativa quanto à perspectiva adotada (por exemplo, em favor da escravidão) por alguns dos autores citados. Assim, na poesia, cita Phillis Wheatley (cuja obra ele reeditaria e prologaria em 1915), Juan Latino (poeta e latinista, catedrático na Universidade de Granada, sobre o qual pesquisaria em arquivos espanhóis em 1926), Paul Laurence Dunbar (cujos manuscritos fariam parte, mais tarde, de sua coleção). Na filosofia, cita o guineense Anthony William Amo. Na narrativa, entre outros, os testemunhos de Gustavus Vassa e Frederick Douglass, os relatos de Pushkin, os romances de Dumas (pai), a narrativa antiescravista caribenha. Na teologia, Alexander Crummell, bem como Jacobus Capitein quem, nascido escravo em Gana, estudou em Leyden, se ordenou como ministro da Igreja Reformada holandesa e escreveu um tratado, De vocatione ethnicorum, no qual defende o princípio de não contradição entre a prática do cristianismo e o direito a se ter escravos. Na história da música e da pintura, cita o compositor Ignatius Sancho. Na historiografia africana, Ludoph; além de contribuições feitas também na história da medicina e do direito. Explicita, em muitos casos, as conexões transatlânticas dessa produção, seja pelo deslocamento (muitas vezes forçado, na qualidade de escravos) de seus autores, seja pelo local de edição (muitas vezes também, póstuma) de suas obras.
Chegando ao final do ensaio, depois de dedicar um parágrafo exclusivo à produção haitiana, Schomburg sublinha que tratou apenas de "autores negros" - embora liste, a seguir, vários estudos de outros autores, nas áreas de ciências humanas, dedicados à África e suas diásporas - para mostrar "com alguns exemplos o que há disponível do passado e que pode servir de base" à estruturação "com urgência" de uma cátedra de "história do negro"10.
No final do texto, Schomburg introduz ainda mais duas afirmações polêmicas. No primeiro caso, ataca o argumento da supremacia racial - defendido por J. C. Calhoun, político sulista da primeira metade do século XIX - baseada no desconhecimento, por parte dos africanos, das línguas clássicas. Frente a esta "tese", Schomburg lembra que muitos escravos nas Américas sabiam ler e escrever em árabe, enquanto seus senhores, não apenas não conheciam as línguas clássicas, como sequer saberiam conjugar corretamente os verbos em suas próprias línguas maternas. A este respeito, é interessante lembrar que os argumentos que remetem a aspectos da diversidade entre as línguas, seus registros e usos aparecerão com frequência nos ensaios e, sobretudo, na correspondência de Schomburg. Assim, se por um lado, sua maior ou menor fluência linguística colabora no estreitamento de laços com membros de diversas comunidades migrantes afrocaribenhas e na consecução de materiais para sua coleção, provenientes de livreiros, editores, antiquários etc. americanos, africanos e europeus; por outro lado, o fato de assumir o inglês como língua de intervenção pública tornará evidente uma e outra vez o caráter mormente autodidata de sua formação. Neste sentido, é notável a postura de Locke, quem se referirá ao "inglês flamboyant" de Schomburg como sendo decorrente de sua educação hispânica11. Assumindo uma postura análoga, os parceiros acadêmicos atribuirão a Schomburg um papel coadjuvante em suas pesquisas, que se traduzirá no fato de utilizarem materiais da coleção (inclusive, previamente à sua aquisição pela Biblioteca pública da cidade de Nova York) e de não deixarem registro desse empréstimo nas publicações resultantes.
No segundo caso, Schomburg afirma que a agência da diáspora africana poderia surgir tanto do âmbito universitário (como queria Du Bois com seus "talented tenth"12), como vir "das fileiras do povo". Com esta afirmação, Schomburg questiona o caráter necessário da formação acadêmica para o esclarecimento quanto aos objetivos, bem como para ocupar uma posição de liderança no ativismo político e cultural; religando-se com sua experiência política juvenil, pautada por relações de horizontalidade. Não é casual, na escolha de alguns dos seus objetos de estudo, o caráter combinado do exercício de atividades manuais ou artesanais, e intelectuais ou políticas ou culturais. Do mesmo modo, é perceptível essa horizontalidade na utilização de formas análogas de tratamento dispensadas a seus correspondentes: colecionadores, antiquários, livreiros, poetas, radialistas, intelectuais e acadêmicos de diversas áreas, bibliotecários, diretores de instituições culturais de prestígio (museus, arquivos, bibliotecas), ativistas, presidentes de estado, jornalistas, artistas plásticos, editores etc.
Nessa década, Schomburg reedita e prologa o volume de Poemas e cartas de Phillis Wheatley13; e publica vários ensaios: um, sobre Sebastián Gómez14, pintor, escravo de Murillo; outro, sobre "Negro composers and musicians of the World"15 (ao qual se somarão, anos mais tarde, outros sobre compositores afrocaribenhos, e o dedicado a Carlos Gomes); e um terceiro, de teor histórico, sobre a participação de soldados haitianos nas guerras pela independência nos Estados Unidos e na Colômbia16. Elabora também a primeira lista bibliográfica de poesia afroamericana17.
Seu ensaio mais conhecido, "The Negro digs up his past", fez parte do número especial da revista de pesquisa social Survey Graphic dedicado ao Harlem como "meca do Novo Negro", em 25 de março de 1925, e cujo texto de abertura é o clássico "Enter the New Negro", de Alain Locke. O número é lido ainda hoje como manifesto do movimento do "Novo Negro" - denominação preferida por Locke, em lugar de Harlem Renaissance -, constituindo-se paralelamente em laboratório do livro The New Negro, editado pelo mesmo Locke meses mais tarde. O ensaio de Schomburg fez parte de ambas as publicações. No primeiro caso, apareceu na segunda seção, "The Negro expresses himself", junto com poemas de, entre outros, Countee Cullen, Angelina Grimke, Jean Toomer, Langston Hughes e o jamaiquino Claude McKay, além de ensaios de W. E. B. du Bois, J. A. Rogers e Albert C. Barnes sobre artes plásticas africanas e sua presença nos Estados Unidos, e sobre música popular afroamericana contemporânea (especialmente, o jazz). Esta seção, a central no número de Survey Graphic, esteve emoldurada por outras duas: a primeira, sobre o Harlem como "a maior comunidade negra do mundo" - com artigos de, entre outros, o jamaiquino W. A. Domingo e o pintor e gravurista Winold Reiss, que tinha passado uma temporada de estudos no México em 1920 e que foi responsável pelo design gráfico do número -, e a terceira, dedicada aos "contatos raciais" e que incluía colaborações de, entre outros, Walter F. White e Melville Herskovits.
Em um contexto de formulação local de um discurso e ações expressivos de uma das vertentes do panafricanismo, cabe notar que, entre os colaboradores mais jovens, vários eram partidários do garveyismo (notadamente os afrocaribenhos) e/ou de ideários políticos de esquerda. Por sua vez, Schomburg, que nunca se vinculou oficialmente a nenhum desses movimentos e que dizia abominar o comunismo, colaborou, no entanto, pelos mais diversos meios (incluído o financeiro) com vários deles. Valem como exemplos o pedido da esposa de Marcus Garvey para que Schomburg interviesse em favor do líder jamaiquino quando do seu encarceramento em 1923, bem como os intercâmbios de pequenos serviços (em geral, de pesquisa bibliográfica) e favores registrados na correspondência com Claude McKay, o gravurista Albert A. Smith e, às vezes também, Langston Hughes, quando das temporadas de estudo e ativismo dos jovens na Europa. Já entre os tópicos mais comentados na correspondência dos jovens, estará a percepção comparada do caráter explícito da violência do racismo estadunidense, em relação às formas mais oblíquas que ele revestiria, sobretudo, na França contemporânea.
Nesse contexto, a coletânea editada por Alain Locke em livro, The New Negro, de 1925, revela propósitos mais ambiciosos que o número de Survey Graphic que a antecedeu. Nela, além do ensaio "The Negro digs up his past", Schomburg colabora com uma "bibliografia seleta" da produção afronorteamericana e africana, na qual inclui livros de sua coleção particular, dentre os quais (e expandindo o escopo do que o título promete) os poemas do afrogranadino Juan Latino, os do cubano Juan Francisco Manzano, as Réflexions politiques... do haitiano Barão de Vastey etc. O subtítulo da compilação bibliográfica, "notable early books by Negroes", funciona, por um lado, como reafirmação do caráter injustificável da mediação, em se tratando da autorrepresentação do negro (consonante com o título da seção em que aparecera inicialmente "The Negro digs up his past" em Survey Graphic: "O negro se manifesta/fala por si mesmo"); e por outro, opera como contraponto basal (porque documentado) na construção desse "Novo Negro" no presente e na sua projeção de futuro. O início do ensaio não deixa dúvidas quanto a estes propósitos:
"O negro americano tem de refazer seu passado para construir seu futuro. [...] A história tem de restituir [ao negro] o que a escravidão [lhe] arrebatou. As gerações atuais têm de reparar e compensar o dano social da escravidão18".
Condizente com a metáfora arqueológica do título do ensaio, o "Novo Negro" é "novo" porque pode prescindir da mediatização, porque pode, enfim, se autodefinir e autorrepresentar, como resultado de uma operação prévia, a da escavação do/no seu passado, à criação de cujas condições de possibilidade e realização Schomburg dedicará seu empenho de décadas. Assim, o registro documental (a literatura, a história, as artes gráficas e plásticas, a filosofia etc.) funciona como manifesto de:
"Primeiro: que o negro, através de séculos de controvérsia, foi um ativo colaborador, e muitas vezes precursor, na luta por sua liberdade e progresso. Isto é tão certo quanto é surpreendente o fato de que não tenha sido reconhecido com anterioridade.
Segundo: que em virtude de ter sido vistos como ‹ excepcionais ›, mesmo que por amigos e admiradores, negros de gênio e sucesso são injustamente desvinculados do grupo, com o resultado de que se tira do grupo o devido crédito.
Terceiro: que as origens remotas do negro, longe de ser o que se dera a entender à própria raça e ao mundo, dão evidência de verdadeiros trunfos coletivos quando observadas cientificamente. E mais importante ainda: que esses trunfos são de vital interesse por estarem ligados ao alvorecer e aos primeiros desenvolvimentos da cultura humana19."
Inicialmente, cabe destacar que, no contexto contemporâneo à publicação deste ensaio, o que está ressoando, tanto no âmbito científico quanto no da opinião pública medianamente informada, são os desdobramentos que, para a redefinição do relato da história "universal", traria a descoberta do túmulo de Tutankamon em 1922. Acontecimento que será lido como um questionamento dos "primitivismos" europeus e americanos.
Na perspectiva de uma história transatlântica20, que interessava a Schomburg, "o pó da história", revelado pela escavação arqueológica (do passado), pode muito eficazmente substituir "a arena da polêmica" (no presente). Nesta linha, a orientação predominante de sua prática arquivística, bem como o tom mais aparente de seus escritos, revelarão uma preocupação maior com o didatismo (presente e futuro) do que com a polêmica, sem, no entanto, descartá-la.
Dentre os elementos mais notáveis que cabe assinalar, nos parágrafos citados acima, estão a afirmação da agência da diáspora africana nas lutas pela sua emancipação (em contraponto polêmico com as histórias nacionais que glorificam o caráter supostamente magnânimo das respectivas elites); e, paralelamente, o apontamento do escândalo que, para a "razão ocidental" teria implicado a consideração disto (a agência = a Revolução haitiana) como acontecimento óbvio e ofuscante, ao mesmo tempo.
Consequentemente também, a ênfase no caráter necessariamente coletivo (e horizontal) da agência. O que supõe um questionamento dos relatos historiográficos canônicos, teleológicos, tendentes à monumentalização totalitária e à exclusão das minorias. Em lugar dos relatos canônicos nacionais, a atenção focada em figuras centrais de ascendência africana já incorporadas a esses cânones: Pushkin na Rússia, Alexandre Dumas na França, Alessandro de' Medici no berço da Renascença, o poeta e humanista Juan Latino na Espanha do XVI; os pintores Sebastián Gómez e Juan de Pareja, escravos respectivamente de Murillo e Velázquez, na Espanha dos Áustrias; José Campeche em Porto Rico; os músicos da família Brindis de Salas e José White em Cuba, bem como a importância destas tradições musicais na produção de Gottschalk, em Nova Orleans.
Em lugar dos relatos canônicos nacionais, centrados em um herói individual ou uma elite, a tomada de posição de uma perspectiva historiográfica que privilegia as interações, a agência coletiva, as formas breves e fragmentárias. Uma prosa que consigna, opina, intervém, reenquadra ("General Antonio Maceo", "Henri Christophe, king of Haiti"21), polemiza (sobre a autodeterminação de Porto Rico; sobre o direito à igualdade no contexto republicano e a Guerra racial de 1912 em Cuba, em "General Evaristo Estenoz"22), em lugar de assumir a pose acadêmica consagratória da própria voz pelo objeto em pauta.
Schomburg pratica formas discursivas breves (notas, depoimentos, ensaios, crônicas etc.) e de intervenção (oral, em palestras; escrita, em folhetos, periódicos, magazines etc.). Publica e edita impressos baratos e de ampla circulação, pois o caráter coletivo deve se dar também horizontalmente, tanto no âmbito da produção quanto no da recepção. Lança mão de práticas escriturárias que questionam, enfim, o caráter "excepcional", atribuído paradoxalmente pela ratio ocidental, moderna, à produção individual, em detrimento da busca de autodeterminação coletiva, heterogênea.
Em lugar dos relatos monumentalizantes, o interesse no legado de personagens anônimas, como os membros da confraria negra de Sevilha, ou aqueles que participaram na construção da Citadel haitiana de Laferrière, ou bem os que avistaram terras do Novo Mundo junto com Colombo e, como legado para o futuro, aqueles que livre e gratuitamente, vão poder "descobrir seu passado" na coleção que ele iniciara e vendera em 1926, por um valor simbólico, para a Biblioteca Pública de Nova York, sediada no bairro de Harlem.
Em consonância com estes princípios, Arturo A. Schomburg, funcionário do setor de correspondência de uma seguradora, vai adquirindo com seu salário documentos, impressos, litografias, objetos de arte, gravações musicais, manuscritos de poetas etc., para compor com eles o oxímoro do arquivo descrito por Foucault: um arquivo que interroga "o sistema de [...] enunciabilidade23", pois seu objetivo principal é questionar os supostos de todo arquivo e promover a agência.
Neste sentido, Schomburg percebe de modo inequívoco o valor de que se revestem as fontes primárias para a fundação de uma nova história e também para a transformação da agência da memória no poder da história. É interessante notar que, embora alheio formalmente ao campo acadêmico e ausente de Porto Rico por muitos anos, o projeto de Schomburg estabelece linhas de contato com os debates travados em torno das condições de produção de uma nova história em ambos os âmbitos. Já a cena inicial que Schomburg evoca como motivadora de sua agência se dá no contraponto entre a exclusão dos negros do relato historiográfico e o período em que frequentara o grupo de estudo da história de Porto Rico coordenado por José Julián Acosta24 no Instituto de Segunda Enseñanza, em San Juan, na segunda metade da década de 188025. Com efeito, Schomburg rememora sua motivação nos termos do argumento escolar que justificaria a exclusão historiográfica: "os negros não têm história26". Argumento usual à época, a julgar pela recorrência com que ele é citado/rememorado por intelectuais afro (mas não só) nas Américas. Estabelecendo uma linha de continuidade com a agência de seu mestre em relação à história nacional, Schomburg assumirá uma estratégia análoga e, ao mesmo tempo, diversa daquela, dedicando-se à investigação e reunião de registros documentais (manuscritos e impressos, mas também fotografias, ou informações acerca de peças musicais e obras de artes plásticas), que contestassem a ausência de discurso historiográfico baseado supostamente na falta de fontes, e expusessem seu caráter ideológico, de silenciamento deliberado na construção da história nacional.
Em outro sentido, de modo indireto, a agência da coleção de Schomburg postula problemas para a escrita contemporânea de uma história nacional que se apresenta como nova, mas continua sendo solidária da "mitologia cultural" da elite (expressada no Insularismo (1934) de Antonio S. Pedreira e no Prontuario histórico de Puerto Rico (1943) de Tomás Blanco); mas também, no futuro, até 1970, para uma historiografia que continua negligenciado as fontes primárias e excluindo ou apresentando como personagem passivo, na trama do relato, os trabalhadores e as minorias. 27
Este silenciamento é particularmente inadmissível no ano da morte de Schomburg, 1938, quando C. L. R. James publica The Black Jacobins: Toussaint L'Ouverture and the San Domingo Revolution. Articulado desde um lugar de enunciação para-acadêmico, como o de Schomburg, este relato toma como objeto um dos acontecimentos mais relevantes para a história caribenha e transatlântica das minorias afrodiaspóricas, acontecimento de que elas foram protagonistas. Motivo pelo qual, por sua vez, esse acontecimento tinha se constituído em orientador do desenho da coleção do porto-riquenho.
No âmbito internacional, vale lembrar também que, desde o final da década de 1920, a École des Annales vinha promovendo uma transformação importante na concepção da história, assumindo uma atitude de abertura em relação a outras disciplinas das ciências sociais, incentivando pesquisas de caráter interdisciplinar sobre novos objetos - fluxos demográficos, intercâmbios, costumes - e renovando, em consequência, o repertório de questões e os métodos. A história deixará, portanto, de ser prioritariamente a do monumento e o herói nacionais e passará a se interessar por acontecimentos e personagens28 de outras geografias ou por alguns daqueles até então silenciados, bem como por objetos "menores", em perspectiva comparada. Paralelamente, a narrativa (literária e historiográfica) questionará os protocolos dos gêneros discursivos do século XIX, privilegiando a fragmentação e as formas breves como base de um arcabouço sobre o qual seja possível refundar uma narrativa comparada em termos menos desiguais29. Neste sentido, a coleção de Arturo A. Schomburg funciona como agente que obriga a uma reformulação das bases sobre as que se constrói e interpreta o arquivo a partir do qual se escreve a história, incorporando fontes que tornam inverídicos os argumentos favoráveis à exclusão dos sujeitos afrodiaspóricos do relato.
Mais significativo ainda é o fato de que os sujeitos que promovam essa radical mudança nas condições de produção do relato historiográfico provenham de espaços marginais àqueles em que se operava a formulação dos métodos (C. R. L. James), bem como o desenho de coleções e arquivos precedentes (A. A. Schomburg). Em outras palavras, o problema do método - como Deleuze e Guattari o assinalam em relação à expressão na literatura de Kafka - não se coloca nos termos de um universal abstrato, mas na práxis da formação (e posterior institucionalização pública) da coleção, como também, e solidariamente com ela, na práxis escriturária que promove a fragmentação do discurso monumentalizante e expõe, por este meio, o caráter ficcional de seu estatuto "universal". Assim, o uso da correspondência pessoal, como forma mais próxima (em comparação à institucional) de diálogo crítico em torno da coleção, do arquivo e do discurso historiográfico; a preferência pelo jornalismo, em termos não apenas de meio de circulação (mais democrática e direta que a do livro acadêmico), mas também de protocolos de produção de um discurso (tanto no que se refere aos gêneros quanto aos registros linguísticos utilizados); a recorrência a situações mediadas pela oralidade em contextos não acadêmicos ou para-acadêmicos (o seminário de verão para professores de escolas públicas); o tom do discurso e o da impostação da voz na performance oratória (a solicitação/exortação - a plea - em lugar do imperativo) constituem meios que coadunam na escavação para a obtenção das fontes e na consequente corrosão dos relatos homogeneizadores e teleológicos.
Esta corrosão se opera por diversos meios. Um deles, como vimos, é o da fragmentação das formas narrativas. Outro é o da consignação de um lugar de enunciação coletivo dos relatos. Neste sentido, e ainda que utilizem a primeira pessoa do singular, nem Schomburg nem C. R. L. James articulam seus relatos na perspectiva de um autor individual; ao contrário, eles falam em nome da agência afrodiaspórica e é nesse sentido que o discurso de Schomburg é também político.
Em outra linha ainda, o uso da língua se constituirá em meio que expressa por excelência o lugar menor desde o qual o coletivo afrodiaspórico fala; uma língua que expõe, nas limitações e precariedade de sua aquisição - especialmente, no caso de Schomburg -, seu caráter de língua imposta como parte da vasta empresa imperial moderna (nas Américas) e contemporânea (na África). Paralelamente, será o modo exótico em que se expresse esta agência - o "inglês flamboyant" de Schomburg - o que melhor explicite o caráter extraterritorial dessa língua invasora. Em tal sentido, se o afrocubano Gustavo Urrutia se ressente da perda de fluência no espanhol por parte de Schomburg30, sua escrita em inglês, paralelamente, se manterá permeável à oralidade31, privilegiando procedimentos rítmicos e de intensificação, mas também expondo a ausência, especialmente, de elementos de subordinação e de conexão intra e extrafrasais. Assim, aquilo que no âmbito da oralidade pode se depreender de recursos presentes no contexto, na escrita expõe o caráter extraterritorial e opressor dessa língua, bem como o multilinguismo do orador. Entretanto, essas "zonas linguísticas de terceiro mundo por onde uma língua escapa, [...] um agenciamento se ramifica32" são também as que tornam possível a intervenção de dispositivos que alterem as condições de produção (método, gêneros discursivos e meios expressivos) da escrita da história "universal"; essa que não pode deixar de ser afetada pelas demandas provenientes da dispersão, o coletivismo, a desterritorialização das minorias no marco de sua consubstancial mobilidade e heterogeneidade. E assim, provavelmente, a história será tanto mais transatlântica quanto menos pretensamente "universal".
Uma elaboração prévia do exposto neste artigo apareceu em: Viviana Gelado, "Arturo A. Schomburg: um arquivo para ir além da cortina da escravidão", in Viviana Gelado e María Veronica Secreto (orgs.), Afrolatinoamérica: Estudos Comparados (Rio de Janeiro: Mauad, 2016), 119-136.
A pesquisa contou com o apoio do CNPq e do CAPES/PrInt/UFF "Desigualdades globais e sociais em perspectiva temporal e espacial".
David Armitage, "Três Conceitos de História Atlântica", História Unisinos 18, no.2 (2014): 208.
Arthur A. Schomburg, "General Antonio Maceo", The Crisis, 38 (1931), 155-156, 174, 176;
Arthur A. Schomburg, "My Trip to Cuba in Quest of Negro Books", Opportunity 11 (1933), 48-50.
Arthur A. Schomburg, "Creole-Criollo" The light IV (1927): 6-7.
Arthur A. Schomburg, "Racial integrity: a Plea for the Establishment of a Chair of Negro History in Our Schools, Colleges, etc.", Negro Society for Historical Research (1913).
(Reproduzido em Nancy Cunard, Negro, an Anthology, 1931-1933 (London: NC at Wishart, 1934), 97-100.
Arthur A. Schomburg, "Is Hayti decadent?", Unique Advertiser 4 (1904): 8-11.
Arthur A. Shomburg, "The Negro Digs Up His Past", Survey Graphic 53 (1925): 670-672.
Sobre a transnacionalização do modelo das escolas de Booker T. Washington no Caribe hispânico, ver:
Jossianna Arroyo, Writing Secrecy in Caribbean Freemasonry, (Nova York: Palgrave MacMillan, 2013).Frank Andre Guridy, Forging diaspora: Afro-Cubans and African Americans in a world of empire and Jim Crow (Chapel Hill: Univ. of North Carolina Press, 2010).
Arthur A. Shomburg, "Placid, a Cuban Martyr", The New Century (1909), 3. Todas as traduções dos textos de Schomburg para o português são de autoria de VG.
Arthur A. Schomburg, "Racial integrity: a Plea for the Establishment of a Chair of Negro History in Our Schools, Colleges, etc.", Negro Society for Historical Research (1913), 17.
Editor de colaborações de Schomburg, Locke se referiu ao seu trabalho como "a labor of love---for Schomburg is a loyal old friend who isn't to blame for his flamboyant English because he was born in Puerto Rico and educated in Spanish". Ver: Elinor des Verney Sinette, Arthur Alfonso Schomburg: black bibliophile & collector. A biography (Detroit: NYPL & Wayne State UP, 1989), 13.
Ver a respeito: Kevin Meehan, People Get Ready: African American and Caribbean Cultural exchange (Jackson: Univ. of Mississippi, 2013), 52-75.
Arthur A. Schomburg, "Introduction", in Phillis Wheatley, Poems and Letters. (Nova York: C. F. Heartman, 1915.)
Arthur A. Schomburg, "Sebastián Gómez", The Crisis, 11 (1916): 136-137.
Arthur A. Schomburg, "Negro composers and musicians of the world", Champion Magazine 1 (1917): 407-410.
Arthur A. Schomburg, "Military services rendered by the Haitians in the North and South American wars of Independence: A. M. E. review 37 (1921): 199-204.
Arthur A. Schomburg, A. A bibliographical checklist of American Negro poetry. (Nova York: Charles F. Heartman, 1916).
Arthur A Schomburg, "The Negro digs up his past...", op. cit.: 670.
Ibid.
Paralelamente, se torna membro da American Negro Academy (Washington) e seu presidente de 1920 a 1929; além de fundar, junto com Carter G. Woodson, a Association for the Study of Negro life and history (Chicago) e editar seu Journal of Negro history.
Arthur A. Schomburg, The Crisis 38 (1931): 155-156, 174, 176; Arthur A. Schomburg, Looking forward 2, (1935): 12, 13, 20.
Arthur A. Schomburg, The Crisis 4 (1912): 143-144.
Michel Foucault, A arqueologia do saber. (Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2008), 147.
José Julián Acosta (1825-1891), abolicionista, liberal, jornalista, licenciado em Ciências. Junto com Román Baldorioty de Castro e Alejandro Tapia y Rivera, foi membro da Sociedade Coletora de Documentos Históricos (1846-1852), entidade civil que se ocupou de reunir documentos sobre Porto Rico existentes em arquivos europeus, que serviriam mais tarde para a constituição da Biblioteca histórica de Puerto Rico (1854). Na infância, Acosta e Tapia foram alunos de Rafael Cordero (1790-1868), negro livre, artesão fumageiro, quem manteve durante décadas, a partir de 1810, uma escola para crianças de escassos recursos. Ver: Vanessa K. Valdés, Diasporic blackness: the life and times of Arturo Alfonso Schomburg. (Albany: SUNY Press, 2017), 45-50.
Arturo A. Schomburg, "In quest of Juan de Pareja. Colored painters of Spain", The Crisis 34/5: 153-154, 174.
Schomburg retoma este argumento em Schomburg, Arthur A. "José Campeche, 1752-1809, a Puerto Rican negro painter", Mission fields at home 6: 106-108; Schomburg, Arthur A. "Negroes in Sevilla", Opportunity 6: 70-71, 93.
Em relação a isso, ver: Díaz Quiñones, Arcadio. "Recordando el Futuro Imaginario: la Escritura Histórica en la Década del Treinta", Sin nombre XIV, no.3 (1984), p. 16-35.
Para uma breve história do estatuto, funções e questões do gênero da biografia na História escrita, especialmente em relação aos Annales no final da década de 1980, ver: Giovanni Levi. "Les Usages de la Biographie", Annales 44, no.6 (1989): 1325-1336.
María Verónica Secreto, "Tradução e História comparada na América", in Viviana Gelado e Rodrigo Labriola (orgs.), Tradução, arquivos, políticas (Rio de Janeiro: 7Letras, 2019): 11-24.
Ver a respeito Gustavo E. Urrutia, "Imperialismo afrocubano", Diario de la Marina, Havana, 01/03/1936.
It is worth nothing here the strategic importance which rhetoric and oratory have for political agency. Significant in this sense is the publication of anthologies of 'black oratory' since the nineteenth century: from Douglass, Jacobs and Truth to Angela Davis and Cornell West, passing through du Bois, Hurston, and Malcolm X and Martin Luther King, to mention just a few names.
Gilles Deleuze, Félix Guattari, Kafka, por uma literatura menor. (Rio de Janeiro: Imago, 1977), 42.