Viagens científicas da Marinha dos Estados Unidos (U. S. Navy) no século XIX
Os intercâmbios científicos tornaram-se centrais no século XIX e indispensáveis para os processos de...
No período de 1770 a 1830 a grande maioria das colônias europeias no continente americano passam por profundas transformações que marcam a descolonização e o período das independências políticas. Enquanto isso boa parte da África encontra-se na fase "pré-colonial". Fase em que a presença dos europeus - sobretudo portugueses, holandeses, franceses e ingleses em contínua disputa e concorrência - se expressa em entrepostos, localizados nas costas atlânticas, onde era praticado o comércio de mercadorias bem como de homens, mulheres e crianças escravizados. Levados à força como mão-de-obra para as Américas, foi por meio desse tráfico humano que se estruturou um forte eixo de conexão transcultural entre o espaço africano ocidental, oeste e leste central e americano. Nessa parte da África, a "colonização" pelas nações europeias se cristaliza somente a partir da década de 1860, e se acirra na década de 1880 com a corrida imperialista. Do lado americano do Atlântico, após a fase das independências políticas, observa-se o processo de construção e formação dos estados modernos e das nações americanas.
Se as Américas e a África vivenciam trajetórias políticas marcadas por diferenças e especificidades, pode-se especular com a hipótese que impacto da Ilustração apresenta semelhanças. A Ilustração - um movimento cultural, científico, social e político que se espraia pelo continente europeu - teve a sua materialização, na França, por exemplo, no projeto da Encyclopédie, na fundação de sociedades científicas e na profissionalização das academias de ciências, que contribuíram para a organização das grandes viagens de exploração. Como as de Louis Antoine de Bougainville (1729-1811) e Jean François de La Pérouse (1741-1788), que semelhante ao britânico James Cook (1728-1779), viajam pelo mundo afora com uma enorme equipe de cientistas, em navios, que funcionavam também como laboratórios e gabinetes itinerantes de pesquisa nas várias áreas do saber. Essas viagens de circum-navegação foram essenciais no sentido de mapear os continentes e descobrir rincões ainda desconhecidos pelos europeus. Mas essas expedições priorizavam os litorais e somente em raros casos, como por exemplo a expedição do matemático Charles Marie de La Condamine (1701-1774) pela bacia do Amazonas, atravessavam os continentes.
Até então, afora as regiões costeiras onde os europeus já mantinham desde o século XV os seus entrepostos e por onde passam também as viagens de circum-navegação, o interior da África era terra ignota aos europeus. Com a fundação da Associação Africana (African Association) em 1788, na Grã-Bretanha, "a abertura da África" dá os seus primeiros passos. O escocês Mungo Park (1771-1806) será uma das figuras pioneiras desse movimento, ancorado na ciência da Ilustração, tornando-se referência para ulteriores exploradores, dentre eles os franceses, com o intento de penetrar no continente africano.
Na América, as independências políticas e o fim dos monopólios coloniais implicaram na abertura das fronteiras franqueando a entrada de muito estrangeiros, dentre eles numerosos viajantes exploradores motivados por razões científicas e comerciais. No caso do Brasil joanino (1808-1821), os franceses somente puderam usufruir dessa "abertura" após a queda de Napoleão e o restabelecimento da paz no continente europeu. É a partir desse momento que ocorre um novo "descobrimento francês" no Brasil e um renovado interesse pelo país.
Em 1816 o embaixador francês em Portugal, o conde de Luxemburgo (1774-1861), organiza uma missão política e científica para recompor as relações diplomáticas entre as duas coroas. Nesse ano chegam ao país artistas, cientistas, técnicos e escritores que deixaram relatos, imagens, cartas, edifícios e fotografias que documentam as novas relações entre a França e a América portuguesa. Eles documentam, ainda, as novas relações que se estabelecerão com o Império do Brasil, no processo de construção do Estado nacional brasileiro. São nomes conhecidos mais no Brasil do que na França como Auguste de Saint-Hilaire, (1779-1853) naturalista do Muséum d'Histoire Naturelle de Paris, Jean Baptiste Debret (1768-1848), pintor histórico, Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830), pintor, Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny (1776-1850), arquiteto, Auguste Marie Taunay (1768-1824), escultor e irmão de Nicolas-Antoine, Félix-Émile Taunay (1795-1881), pai do escritor brasileiro Alfredo d\'Escragnolle Taunay, visconde de Taunay, e Aimé-Adrien Taunay (1803-1828), pintores e filhos de Nicolas-Antoine, Marc Ferrez (1788-1850), escultor, seu irmão Zéphyrin Ferrez (1797-1851), escultor e gravurista, pai do conhecido fotógrafo franco-brasileiro Marc Ferrez (1843-1923) e o desenhista e um dos inventores da fotografia Hercule Florence (1804-1879).
Com esse "redescobrimento", os viajantes têm acesso à riqueza da natureza sul-americana, mas uma nova personagem surge no horizonte dos viajantes franceses: temos a emergência de um narrador escritor que incorpora cada vez mais o subjetivo e o poético na descrição dos mundos exóticos. Esse viajante literato introduz o complicador da literatura e do ficcional, ou se quisermos chamar de outra forma, da interioridade como instrumento de produção de conhecimento do mundo, mesmo quando se trata de cientistas ou burocratas, que passam a incorporar elementos ficcionais para aumentar o interesse dos fatos científicos que pretendem expor e explicar. Dessa forma, como verifica Carolina Depetris, "a função poética do discurso não desaloja, mas sim se impõe, à função referencial1". Assim, o Brasil se torna um tropo literário, científico e também político, na medida em que o Império do Brasil é um laboratório onde se experimenta uma monarquia escravocrata nos Trópicos americanos em meio às revoluções republicanas que circundam o país, conectado a um sistema atlântico por meio do tráfico de escravos africanos.
Da afluência de franceses que visitam, trabalham e passam a viver no Brasil no século XIX podemos destacar três personagens: o naturalista Auguste de Saint-Hilaire, o pintor Jean-Baptiste Debret e o professor, comerciante e escritor Jean-Charles-Marie Expilly (1814-1886). Esses três autores têm em comum o fato de terem passado longas temporadas no Brasil, terem exercido atividades profissionais e publicado diversas narrativas de suas experiências brasileiras. Além disso, são autores importantes por terem deixado uma marca na historiografia brasileira, para a qual são fonte importante de informações sobre o cotidiano, a história e a vida cotidiana do Brasil monárquico, tanto por seus relatos quanto por seus quadros e gravuras, no caso de Debret.
Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire foi um cientista de renome em sua época e participa da missão diplomática do conde de Luxemburgo na normalização das relações entre a França e o Reino Unido de Portugal e Brasil. Suas viagens se realizaram entre 1816 e 1822, tendo percorrido as províncias do Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, e Rio Grande. Suas narrativas de viagem, intituladas Voyages dans l'intérieur du Brésil, foram publicadas entre 1830 e 1851, parte delas postumamente. Além das narrativas de viagem publicou diversos trabalhos de botânica. A partir do século XVIII, as viagens científicas e ilustradas tornam-se cada vez mais importantes no contexto não apenas científico, mas político dos Estados europeus, que patrocinam diversas missões de pesquisa com o objetivo de transformar a natureza em um objeto científico2. Saint-Hilaire está marcado pelo sentimento de filantropia, que ordena as práticas científicas e políticas nesse momento, em nome do progresso do bem da humanidade.
Seus livros de viagem não tratam diretamente de temas científicos, são livros de divulgação de um território pouco conhecido e de sua experiência como viajante que descreve uma sociedade em construção. Seu perfil científico é visível na declaração de intenções do relato, quando adverte ao seu leitor que este não encontrará as suas opiniões pessoais mas uma exata descrição do que foi visto: "Vou me permitir algumas reflexões; direi o que vi; tentarei apresentar os fatos sobre seu verdadeiro aspecto e, com mais frequência, deixarei o leitor tirar conclusões.3". Acrescenta em seguida que, para isso, estará menos interessado em tornar o seu estilo "mais correto do que pintar fielmente o que eu tinha observado4". Além das particularidades da paisagem e da natureza, Saint-Hilaire está interessado pelo funcionamento da sociedade brasileira e de suas instituições. Assim, destacará sobretudo o papel da Igreja, do Estado e da Ciência na manutenção e defesa de valores civilizatórios e do progresso do país. A ciência, praticamente inexistente no Brasil para ele, está representada pela presença filantrópica dos naturalistas europeus que descrevem e analisam as suas riquezas naturais. O Estado e a Igreja encontram-se em um grau de desenvolvimento precário, necessitando de reformas e regeneração.
Na província das Minas Gerais, Saint-Hilaire vê como fenômenos correlatos tanto a venalidade das autoridades de justiça como a simonia entre os eclesiásticos. Diz ter travado conhecimento com um padre de um pequeno vilarejo, que lhe pareceu "esclarecido, aplicado e apegado aos seus deveres", que lhe declarou ser de idade avançada, necessitando repouso, desejava deixar sua paróquia por um canonicato. Numa segunda visita, levando a conversação para a cidade do Rio de Janeiro, declarou conhecer certa pessoa de importância na capital. Imediatamente o padre pediu-lhe que intercedesse com ele por seu canonicato, afirmando que se fosse necessário dar-lhe dinheiro, ele o faria. "Mas é uma simonia o que me propões, senhor pároco!", exclama com surpresa e indignação Saint-Hilaire; a resposta é que ele sabia ser uma simonia, mas esta era um uso comum na terra, e sem ela "nós não poderíamos fazer nada", declara o padre5.
Na verdade, Igreja e Estado atrapalhavam a lenta marcha da civilização no Brasil. Para Saint-Hilaire havia demasiadas igrejas. Constroem-se "templos desnecessários, gasta-se muito dinheiro para celebrar festas patronais com cerimônias quase pagãs", no entanto, ninguém sonha jamais "formar estabelecimentos de caridade, fundar hospitais, escolas gratuitas, etc. etc. Não é nem mesmo a uma piedade mal compreendida que se deve sempre acusar tais abusos; na maioria das vezes a vaidade é a origem"6. O grande mal será, então, um descolamento das instituições da Igreja, do seu cerimonial, da verdadeira substância da religião, "indiferente a seus deveres mais essenciais"; uma "apatia" que faz com que a religião, aqui, "permaneceu sem moral, e não se conservou dela mais do que suas práticas exteriores"7.
Em sua correspondência, Saint-Hilaire discute o trabalho do viajante naturalista, justificando seus pedidos de uma pensão do governo por seus serviços prestados. Primeiramente, discorre sobre a novidade de seu trabalho por tratar-se de explorar para o Rei as riquezas vegetais do Brasil, que eram desconhecidas dos naturalistas, além das impressionantes distâncias percorridas por quase todo o país. Além da novidade de um trabalho inédito, havia o perigo enfrentado e todo o gênero de privações, em mais de seis anos de uma viagem extremamente penosa, cujo resultado foi uma coleção de mais ou menos seis mil espécies de plantas. Mas Saint-Hilaire recorda que ele não era só um viajante coletor; foi analisando nos locais, as plantas e seus órgãos frescos e não num herbário; apesar de botânico, não deixou de recolher também insetos, pássaros e quadrúpedes8. A novidade do Brasil prometia não apenas aumento dos conhecimentos de botânica como utilidade para as artes e o comércio, pela produção que havia no país de plantas próprias à tintura e a facilidade em aclimatar as plantas europeias em suas terras meridionais9; o Brasil, ainda pouco conhecido dos naturalistas, prometia às suas pesquisas uma colheita abundante10. Saint Hilaire destaca o caráter inédito de seu trabalho de desvelamento de um território pouco conhecido e a produção de um conhecimento inédito e útil para a humanidade, ao mesmo tempo que patriótico, já que servia também para o engrandecimento da ciência e da monarquia francesas. Reconhece o papel central do viajante naturalista, ao mesmo tempo em que divulgava esse trabalho científico por meio de narrativas pitorescas e da análise social. Ciência e literatura estão unidas na obra de Saint-Hilaire como elementos do trabalho científico, filantrópico e diplomático.
O pintor Jean-Baptiste Debret era primo de Jacques-Louis David (1748-1825), que foi seu professor na Escola de Belas Artes de Paris. Viveu no Rio de Janeiro entre 1816 e 1831 como pintor da corte e professor de pintura histórica na Academia Imperial de Belas Artes. Publica em Paris seu Voyage Pittoresque au Brésil em três volumes entre 1834 e 1839. Trata-se de uma obra com 153 pranchas coloridas e textos explicativos; em seu momento a publicação não obtém nenhum êxito e hoje é muito pouco conhecida na França. Já a sua tradução ao português, realizada pela primeira vez em 1940 por Sérgio Milliet, alcançou enorme fortuna na historiografia brasileira, sobretudo pelo caráter documental de suas cenas de cotidiano do Rio de Janeiro ou suas pinturas históricas que relatam construção do Estado nacional brasileiro.
Sua obra pode ser interpretada como um testemunho e o desejo de ser uma fonte histórica sobre o país11. O autor antecipa uma tópica importante da interpretação do Brasil, da contribuição das três raças formadoras do país no caminho de sua civilização. Assim, se o primeiro volume trata do indígena e a primeira etapa do progresso, quando as "tendências instintivas" dos nativos "foram domesticadas" pela adoção dos hábitos dos colonos portugueses12", o segundo centra-se no trabalho do africano, "cuja condição escrava é necessária, embora desumana13". E, finalmente, o terceiro volume apresenta os entraves deste processo de civilização: o "exagero" e o "grotesco" de uma religiosidade sem conteúdo, uma administração corrupta herdada dos portugueses, responsáveis por "práticas arcaicas que visavam sempre impedir o desenvolvimento do Brasil14". Uma das marcas distintivas de sua obra é a documentação da presença africana no Rio de Janeiro, ilustrando um espaço atlântico que conectava o Brasil à África ocidental por meio do tráfico de escravos e do sistema escravista e que constitui uma das senhas de identidade do Brasil para a maioria dos viajantes.
Se a aparência da cidade do Rio de Janeiro não o decepciona, isso se deve à ação civilizadora da Corte, ao Reinado de D. Pedro I e pela afluência de franceses que movimentavam o comércio e os serviços da capital, como cabeleireiros, cirurgiões-dentistas, padeiros, artistas etc. Um francês seria o responsável pela introdução da farinha na cidade, fazendo progredir o negócio das padarias, favorecido pelo acréscimo do consumo "produzida pela prodigiosa afluência de seus compatriotas comedores de pão.15".Assim como os gregos frente aos bárbaros, os *comedores de pão franceses vieram trazer, na visão de Debret, as Luzes da civilização às terras incultas e belas da América.
Debret aposta na monarquia e no caráter civilizatório da presença europeia para o desenvolvimento do Brasil e a constituição de uma nação civilizada nos Trópicos. Para isso seria necessária uma transformação nas relações de trabalho: o abandono da escravidão, que constituía uma chaga na sociedade brasileira e o aporte de profissionais europeus, cuja missão seria pedagógica, ensinando aos brasileiros não apenas as técnicas e as artes, mas uma verdadeira ética do trabalho e da responsabilidade. Além disso, esse processo civilizatório implicaria também o abandono dos vínculos com a sociedade e a cultura portuguesa. Os portugueses deixaram à sociedade brasileira a preguiça, o repúdio às artes e às ciências, a escravidão e um Imperador que não foi capaz de abandonar essa mácula lusitana e construir uma monarquia constitucional estável. Seu relato apresenta as peculiaridades de uma sociedade mestiça, de uma jovem nação em construção e de uma experiência inédita de uma monarquia de tipo europeu nas Américas e um projeto civilizatório de cunho filantrópico e cultural no qual os franceses deveriam ter um papel central.
Charles Expilly foi um professor francês emigrado ao Brasil que acabou sendo fabricante de fósforos no Rio de Janeiro, cidade na qual viveu entre 1852 e 1862. Publicou dois relatos sobre sua viagem ao Brasil, le Brésil tel qu'il est (1862), les Femmes et les mœurs du Brésil (1864), além de quatro romances. É o único viajante a ter publicado um relato dedicado inteiramente às mulheres brasileiras, no qual trata em alguma medida da questão da mulher, mas sobretudo define uma espécie de teoria da beleza no mundo exótico, além de uma violenta crítica à escravidão. O relato está dedicado à sua pequena filha Marthe, nascida no Brasil e que foi amamentada por uma ama de leite escrava. A ignorância dos portugueses tem como resultado a escravidão e uma "educação sentimental" das mulheres brancas que corrompem a sociedade local. Dominadas por uma imaginação excessiva, as mulheres brasileiras apreciam muito, diz o autor, "rosas brilhantes e orgulhosas para manter a sombra pálida e tímida do sentimento." As rosas rubras funcionam como metáfora das paixões abrasadoras das mulheres dos Trópicos, incapazes de conter suas paixões em um sentimento puro e civilizado como o amor romântico europeu; contribui para isso a falta de educação formal das mulheres16.
Depois de tratar da condição feminina no Brasil, Expilly traz uma anedota autobiográfica, do encontro com seu amigo Justin Fruchot, músico que acaba como mercador arruinado no Brasil. Mas a verdadeira personagem é Manoela, sua amante negra, uma "duquesa bronzeada", filha do sol ardente, a beleza mais severa e grandiosa jamais vista, diz Fruchot17. Seu objetivo é criticar os preconceitos que impediam identificar a pele negra com a beleza feminina, aquela que não se podia observar entre as mulheres brancas do Brasil.
Sua tese é que a beleza e a nobreza do amor da mulher negra são superiores ao preconceito que a sociedade brasileira tem em relação a essa cor. Dessa forma Expilly define o seu ideal de beleza feminina na América: não é a branca, que no "cadre splendide" do "ardente soleil" dos Trópicos perde as vantagens das quais desfruta na Europa, já que sua "beleza delicada é afogada em correntes de luz", se torna mesquinha, pequena, miserável, angustiada, o sol tropical provocando suas devastações na pele delicada da mulher branca. Tampouco é a mulata, que deve seus êxitos a uma afetação atrevida. A beleza pura está com as "filles d'Afrique", pela "cor franca da sua pele", de um negro absoluto, como costumam ser as mulheres Mina, que recorda o mármore negro de Portor, com veias de fogo. Sua beleza está ainda na amplitude de seu torso e no seio abundante que atestam "um molde perfeito, uma força vital em harmonia com a poderosa vegetação do equador, e que faz pensar no amor insaciável dos imortais"18.
Trata-se de uma obra entre a narrativa de viagem e a literatura, na qual a experiência da viagem ao Brasil serve para construir um libelo político contrário à escravidão, à civilização luso-brasileira e ao lugar que ocupa a mulher nessa sociedade, bem como uma teoria estética da beleza feminina nos Trópicos. Uma teoria geográfica, na qual a cada continente cabe um tipo de beleza com uma cor de pele característica, e a cada modelo de beleza feminino lhe corresponde a castidade e a pureza de sentimentos. Brancas na Europa, negras na América e mulatas em nenhuma parte, na medida em que representam uma mancha na pureza racial. Em sua estética territorial da beleza, o Brasil está conectado à África por meio do corpo da mulher negra, que dá sentido à natureza americana, um território híbrido e mesclado, no qual a paisagem brasileira é composta por sua natureza tropical e pela pureza plástica e moral da mulher de origem africana.
Entre os viajantes europeus na África pós-napoleônica os franceses foram numerosos19, sobretudo após 1860, com o avanço colonialista. Trata-se de soldados, missionários, naturalistas, agentes coloniais, caçadores ou aventureiros, que estudaram certas regiões com ou sem apoio e financiamento oficiais. Dentre esses vale mencionar alguns nomes - que despontam pelo seu "pioneirismo" e pelas suas contribuições científicas, deixadas em publicações, destinadas ao público europeu: os irmãos d´Abbadie, que viajam pela Etiópia entre 1860 e1863; Leopold Panet, um mestiço senegalês, de Gorée, que figura como um dos pioneiros na travessia do Saara em meados do século XIX; Henri Duveyrier, conhecido geógrafo que explorou o norte da África na segunda metade do século XIX; o famoso Louis Gustave Binger, espécie de viajante "modelo" que investigou a África ocidental na década de 1880; e Pierre Brazza, que estudou a região do Congo e a África ocidental nas décadas de 1870 e 1880. A esses nomes pode-se acrescentar Gaspard Mollien, René Caillé e Jean-Baptiste Douville, igualmente considerados "pioneiros" por se adentrarem no continente africano ainda na fase pré-colonial. Os dois primeiros se embrenharam pelos confins do Senegâmbia enquanto o terceiro atravessou Angola, Congo e regiões adjacentes habitados por "povos independentes". A esses daremos aqui o destaque não pelo seu "pioneirismo", mas por dois aspectos que tocam a transculturação atlântica: eles explorarem regiões que estavam conectadas com o mundo americano em virtude do tráfico negreiro; e sua biografia revela que eles próprios circularam pelo espaço transatlântico do lado americano e africano.
René Caillé (1799-1838) notabilizou-se por ter sido o primeiro europeu a voltar da "misteriosa" cidade de Timbuctu, no interior da África ocidental (atual Mali), em 1828. O sucesso de Caillé talvez repousasse no fato de já ter vivido há pelo menos uma década entre a África ocidental e o Caribe. Em 1816 mudou-se ao Senegal como doméstico de um oficial e nessa ocasião começa a sonhar com Timbuctu lendo Mungo Park. Depois de uma estada em Guadalupe, ele volta à África e em 1818/19 participa da expedição do britânico Major Gray. Em seguida, ganha sua vida viajando para as Antilhas a serviço de um empório de Bordéus. Em 1824, ele volta ao Senegal, quando permanece entre os Mouros Brakna, apreende o árabe e mergulha em sua vida cotidiana, observa seus costumes e as práticas religiosas, registrados posteriormente em seu relato de viagem.
Sua decisão de organizar uma expedição a Timbuctu motivou-se quando soube que a Sociedade de Geografia em Paris premiaria quem voltasse da cidade misteriosa. Em abril de 1827 ele deixa Kakondy, no Rio Nunes, atravessa o Futa Djalom (atual Guiné), chega ao alto Níger na região de Kouroussa. Via Kankan e Tengrela, chega em Jenné, muito doente. De barco vai a Kabara, até as portas de Timbuctu onde chega em abril de 1828. Mas o olhar europeu de Caillé revela decepção do que avista naquela cidade que se conhecia das narrativas medievais de Leão o Africano e que maravilhava a fantasia dos europeus. Após estadia de um mês, Caillé, sempre com vestes árabes, deixa essa importante cidade - o centro comercial e religioso que ligava o Egito a Gana - com uma enorme caravana - e atravessa o Saara ocidental. (Figuras 5 e 6) Após mais de três meses, chegam em setembro de 1828 em Tânger, estação final de uma longa estadia na África, que em certos momentos ameaçou a sobrevida dele e de seus acompanhantes.
É possível perscrutar a perspectiva transatlântica de Caillé no início de seu relato de viagem: uma estada prolongada em estabelecimentos franceses e nas colônias no Senegal, e também a "minha própria experiência", (talvez esteja pensando em suas atividades em Guadalupe e nas Antilhas), lhe ensinaram, segundo Caillé, o quanto o comércio deveria se desenvolver e avançar continente adentro. Para tecer essas relações comerciais e "impor às populações afastadas o tributo de nossa indústria", era necessário realizar novas "descobertas" e obter novos conhecimentos geográficos, para motivar o Governo na empreitada colonizadora. A missão de Caillé na África ocidental, realizada sem apoio oficial e com poucos recursos, foi finalmente reconhecida e capitalizada pelo governo francês em seus futuros empreendimentos imperiais. Caillé recebe uma pensão de Carlos X, é contemplado com o prêmio da Sociedade de Geografia, que igualmente viabiliza a publicação de seu relato de viagem.20 Trata-se de uma importante contribuição, que apresenta ao público francês descrições das sociedades dos mouros Brakna, dos Mandingo, dos Fula, dos Tuaregue e dos Bambara, considerando sua cultura, práticas religiosas, cotidiano etc. Igualmente fornece informações sobre as redes comerciais, as formas de trabalho (incluindo os vários tipos de escravidão), bem como a geografia, a flora e a fauna.
Junto com Caillé, Gaspard Mollien (1796-1872) chegou no Senegal em 1816. Esse jovem de 20 anos era adido da administração da marinha do Senegal e integrava a expedição, cujo objetivo era a retomada dos estabelecimentos franceses na Senegâmbia. Vale lembrar que em 1814/15 a França pós-napoleônica recebe de volta o Senegal, um lugar de disputa entre os franceses e ingleses, que comerciavam escravos, goma e outros produtos. A França se instalara em meados do século XVII no alto Senegal, em St. Louis, atuando no tráfico de escravos e na instalação de vários entrepostos comerciais.
Em 1817, Mollien volta para a França e apresenta ao governo o plano de traçar um roteiro alternativo ao de Mungo Park. Em vez de penetrar no continente seguindo os paralelos sugere acompanhar um meridiano para chegar ao Futa-Djalom, dominado pelos Fula (Peúle) muçulmanos. Trata-se de um caminho inédito com o fito de interiorizar as expedições no continente. Mas o governo, na época preocupado em se recuperar das guerras napoleônicas e envolvido com a restauração da monarquia, não apoiou o projeto. O jovem não abandonou seus objetivos e retornou ao Sénégal, onde conquistou o apoio do governador interino francês M. de Fleuriau. Interessante sublinhar que a viagem de exploração de Mollien, como também a de Caillé, não foi realizada sob os auspícios diretos do governo metropolitano. Quem finalmente contribui financeiramente e apoiou o intento foi o governador local.
Sua tarefa deveria ser a "descoberta" das nascentes dos rios Senegal, Gâmbia e Níger e seguir até o delta do rio Níger. E, de quebra, verificar onde haveria terra fértil e a qual distância dos rios. O governador igualmente colocou a disposição um guia e intérprete, que falava o árabe, o fula, o wolof, menos o francês. A língua em comum entre ambos era então o wolof, que Mollien aprendera. Finalmente, na viagem que levou mais de um ano (jan. 1818 a fev. 1819) Mollian e seus ajudantes foram exitosos. Partiram de St. Louis em fevereiro de 1818, continente adentro até a região do Bandu e seguiram sentido sul. Vestido de mouro, o francês avança até o Futa-Djalom, onde localizou as nascentes dos rios Gâmbia e Rio Grande. No entanto, sem recursos, ele desistiu de ir até o Níger e acabou voltando via Bissau e Gorée até St. Louis em janeiro de 1819. Entre os objetos coletados, trouxe numerosos minerais, cujo estudo e classificação foram realizados por colegas especialistas na França. E tal como outros viajantes do período, que em seu objetivo de realizar descobertas que fossem de interesse para os europeus bem como verificar as potencialidades econômicas da região, realiza amplas observações sobre a população local. Dos costumes, da sua história, dos seus hábitos. Se Mollien destaca os contextos locais ao procurar compreender a complexidade dos africanos muçulmanos e dos "pagãos", ele não perde a sua perspectiva imperial. A conexão entre os espaços transatlânticos se evidencia em seus âmbitos: em sua expedição deveria localizar uma região bem fértil com o "objetivo de acalmar os arrependimentos causados à França com a perda de S. Domingos".21 Convém lembrar que a colônia de S. Domingos era a mais próspera e que mais trouxe lucro e rendimentos ao governo metropolitano francês.
Após percorrer a região do Podor, às margens do rio Senegal, e verificar a sua situação natural e cultural, estava persuadido das vantagens da colonização do Senegâmbia. Desde que se cultivasse o algodão, o índigo e diversos cereais, porém sem se afastar demais do rio, pois as inundações periódicas contribuem para a fertilização do solo. Mas Mollien também aponta os desafios que a colonização significaria aos europeus. Pois tanto o clima como os habitantes preocupariam incessantemente os colonos que desejassem se estabelecer no país dos Fula. "Esses negros muçulmanos são demasiadamente esclarecidos para não nos temer, excessivamente fanáticos para não nos odiar, e por serem fortes não precisarão lutar longamente contra as forças militares francesas enfraquecidas pelas doenças." Diante desses reptos, Mollien propõe o seguinte: reunir uma população de negros pagãos oprimidos pelos mouros, de vesti-los como brancos, de curá-los, e, conduzindo-os por instituições em harmonia com sua "inteligência", esconder deles a mão que os protege, colocando como seus dirigentes homens da mesma cor, retirados de "nossas colônias da América". Nesse sentido, Mollien projeta no ainda não "colonizado" Senegâmbia uma colonização transcultural conectando o aprendizado da europeização nas Américas e a crioulização dos africanos como forma de enfrentar o poder dos muçulmanos na África.22
Entre os viajantes exploradores franceses que estiveram na África ocidental, Mollien é uma das figuras que desponta em virtude de sua circulação pelo mundo atlântico. Depois de viajar duas vezes no Senegal, ele segue para a América Latina. Conhece a Colômbia (em 1823 percorre a jovem república e publica um relato de viagem), depois Haiti, na qualidade de cônsul no ano de 1828, onde deveria auxiliar a regrar juridicamente a nova independência.23 Sua estadia na ex-colônia francesa o inspirou a publicar uma história do país. Depois foi transferido para Havana, Cuba, onde representou o governo francês durante quinze anos. Visitou mais tarde os Estados Unidos da América. 1856 viajou ainda para Índia e para China, deixando também escritos sobre essas viagens. Mollien pode ser visto como um típico agente imperial motivado por interesses científicos, pelo desejo de aventura, pautados em sua educação ilustrada. Inspirado na "consciência planetária" 24, transcendeu culturas e fronteiras, sem se afastar do eurocentrismo bem como do projeto colonial francês.
Se uma das preocupações de Mollien era transferir africanos crioulizados das colônias francesas na América para o Senegal com o fito de "colonizá-lo", um outro francês, Jean-Baptiste Douville (1797?- 1837?), encontrava-se na década de 1820 no Rio de Janeiro - de onde zarpou para a África portuguesa - levando consigo "mulatos" livres e dois negros africanos escravizados, que deveriam servir de intérpretes e auxiliares em sua planejada expedição científica por Angola e Congo. O remarcável em sua trajetória é que a inspiração para realizar uma expedição à África surgiu no Rio de Janeiro e não na Europa. Douville, que desde 1826 era membro da Sociedade Geográfica de Paris, estava de passagem na então capital do jovem Reino do Brasil a caminho da Índia e da China, que pretendia explorar. Mas no Rio conheceu numerosos negociantes que haviam morado nas possessões portuguesas da África ocidental ao sul do Equador, e que se referiam a detalhes singulares sobre aquelas regiões - detalhes confirmados pelos africanos no Rio - e que atiçaram a sua curiosidade, demovendo-o de seus planos originais. Afinal, as relações de Rio de Janeiro e Angola eram muito estreitas em virtude da intensidade do tráfico negreiro. De 1825 a 1830, 44% dos africanos e africanas escravizados destinados ao mercado no Rio de Janeiro escoaram pelos portos de Luanda e Benguela, ao lado de Cabinda e Ambriz.25 No entanto, assim argumentou Douville na introdução de seu relato de viagem, afora pelos traficantes e caçadores de escravos, a população africana dessas regiões era pouco conhecida aos europeus e à ciência europeia.
Esses negociantes também o advertiram que não somente os portugueses - tão temerosos e ciumentos - não toleravam a presença de outros europeus em seus domínios, mas igualmente os africanos independentes - os que não estavam sob nenhum jugo colonial - eram capazes de grandes crueldades contra os brancos, afirma Douville. Viajar na África estaria associado a muitos desafios e perigos, assim lhe fora dito. Então realizar no Rio de Janeiro os preparativos da viagem foi provavelmente mais eficiente do que se estivesse em Paris.
Douville nos conta que conseguiu valiosas informações de um médico que vivera muitos anos em Luanda. Graças à sua experiência pode montar uma boa botica para a longa viagem. Em seguida, ele comprou as mercadorias adequadas e úteis para "abrir as portas às nações Negras" (ao lado de aguardente, tafiá e outras mercadorias, adquiriu instrumentos tais como barômetros, bússolas etc.). Outrossim, procurou escravos originários das regiões que pretendia investigar e que não tivessem esquecido o seu idioma e que também falassem português, pois eles deveriam servir de intérpretes. E contaria com "mulatos" incumbidos de servir de secretário e auxiliar no trabalho de observação. Os negociantes no Rio de Janeiro "deram-lhe" também numerosas cartas de recomendação destinadas aos negociantes em Angola, para que ele pudesse se corresponder com o Brasil e com a Europa, além de obter informações relevantes locais e ter ajuda caso fosse necessário.
Em 15.10. 1827 ele zarpa, em companhia de sua mulher, os dois escravos e um empregado doméstico "mulato" para Benguela (outros dois "mulatos" seguiram em outro navio, mais tarde).26 Devido a contratempos, desvios e tempestades chegaram em 18.12 em São Felipe de Benguela, onde iniciou-se uma longa peregrinação de dois anos. Em 1830, de Luanda volta ao Rio de Janeiro. E depois retorna a Paris, onde é condecorado com a grande medalha de ouro da Sociedade Geográfica. Em seguida publica o relato de viagem em três volumes e um atlas com ilustrações, que tiveram razoável sucesso.
Se foi verdade tudo o que realizou, ele foi o primeiro europeu, para além dos traficantes de pessoas escravizadas, a penetrar nos confins do Congo com intenções científicas. Mas as dúvidas foram inúmeras - e acusações por parte dos meios científicos não faltaram, questionando a veracidade do trajeto e partes da própria memória da viagem.27 Talvez Douville tenha colhido as informações das áreas "independentes" segundo os relatos dos negociantes envolvidos no tráfico humano, os pombeiros. Talvez ele mesmo estivesse ligado ao tráfico negreiro, pois não se evidencia como teria financiado a expedição.28
Depois de sua estadia na França, em 1833, volta ao Brasil e se dedica à coleta de plantas e animais bem como aos estudos naturalistas e etnológicos. As suas coleções ficaram no Brasil e formaram um dos primeiros acervos do que mais tarde viria a ser o Museu de História Natural da Bahia. Sua morte nunca foi esclarecida; havia indícios que teria sido assassinado em 1837 às margens do Rio São Francisco. Apesar dessas ambiguidades, seu relato de viagem, acrescido do volume com estampas, é uma valiosa contribuição, por conter ricas observações etnográficas sobre as sociedades em Angola, Benguela, Quisana, Lebolo, cujo limite, no entanto, são os preconceitos que sustenta contra os negros. E valiosas também são as suas descrições sobre os mercados de escravos como, por exemplo, os de Banza no Bié ou o de Cassange, um dos maiores na região.
Nessas experiências de viagem podemos ver como os franceses estão presentes no mundo atlântico no século XIX e como procuram adaptar-se às grandes mudanças históricas desse período. Na América são testemunhas da construção dos Estados nacionais e procuram participar desse momento com projetos civilizatórios e participação na ciência e no comércio. Há uma ação diplomática, de reconhecimento das novas nações que resultam da desintegração dos Impérios ibéricos, além de uma ação individual de profissionais de diversas áreas que veem uma oportunidade aberta ao enriquecimento e a uma nova vida, tornando-se agentes de trocas (em parte desiguais) de culturas, de objetos e de saberes entre a Europa e a América. A África, por seu lado, está num momento histórico distinto; enquanto a América está superando uma experiência colonial de três séculos, o continente africano está num período pré-colonial, prestes a ser dividido pelas potências europeias. Esses viajantes têm um caráter mais aventureiro e dependem muito mais de boas conexões com os locais, com os guias e intérpretes, para poderem sobreviver a um ambiente desconhecido e mais hostil. Apesar das disparidades históricas dos dois continentes, estão unidos por um sistema econômico complementar mediado pelo tráfico de escravo e pela afluência de africanos à América que durou quatro séculos e que constitui um espaço atlântico de trocas e circulações diversas. Sendo assim, de ambos lados do Atlântico os franceses estão abrindo fronteiras num espaço de oportunidades e documentando a complementaridade dos dois lados do Atlântico.
Carolina Depetris, La Escritura de los Viajes (Mérida: UNAM, 2007), 93.
Lorelai Kury, Histoire Naturelle et Voyages Scientifiques (1780-1830) (Paris: L'Harmattan, 2001), 140.
Auguste de Saint-Hilaire, Voyages dans l'intérieur du Brésil. Première partie. Voyage dans les Provinces de Rio de Janeiro et de Minas Geraes (Paris: Grimbert et Dorez, 1830) v. 1, 9.
Ibid., 10.
Ibid., Voyages dans l'intérieur du Brésil. Première partie. Voyage dans les Provinces de Rio de Janeiro et de Minas Geraes (Paris: Grimbert et Dorez, 1830) v. 1, 174-175.
Ibid., p. 175.
Ibid., p. 179.
Archives Nationales (Paris). Ms. F17-3977.
Archives Nationales (Paris). Ms. F17-1543.
Ibid.
J. B. Debret, Historiador e Pintor. A Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1816-1839) (Campinas: Unicamp, 2007), 140.
Valéria Piccoli Gabriel da Silva. "A pátria de minhas saudades": o Brasil na Viagem pitoresca e histórica de Debret. Dissertação (Mestrado em Arquitetura). São Paulo: FAU-USP, 2001, p. 69.
Ibid., p. 84.
Ibid., pp. 103-104.
Jean Baptiste Debret, Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, ou Séjour d'un Artiste Français au Brésil, depuis 1816 jusqu'en 1831 inclusivement, Époques de l'avénement et de l'abdication de S.M.D. Pedro 1er., fondateur de l'empire brésilien (Paris: Firmin Didot Frères, 1834-1839) v. 2, 41.
Charles Expilly. Les Femmes et les Moeurs du Brésil (Paris: Charlieu et Huillery, 1863) 32-33.
Ibid., 58.
Ibid., 113-114.
Numa Broc, Diccionnaire Illustré des Explorateurs et Grands Voyageurs Français du XIXe siècle. Afrique (Paris: Editions du C.T. H. S, 1988). Broc apresenta cerca de mais 500 "exploradores" franceses na África entre 1815-1914. Nesse arrolamento, Broc somente incluiu viajantes que publicaram algo sobre a viagem.
René Caillé, Journal d´un Voyage à Tombouctou et à Jenné, dans l`Afrique Centrale (Paris: Imprimerie Royale, 1830).
Gaspard Mollien, Voyage dans l´intérieur de l´Afrique, aux Sources du Sénégal et de la Gambie, fait en 1818, par odre du gouvernement français (Paris: 1822) 2 vols. V. I, 28.
Ibid., V. I, 52-54.
Hubert Deschamp, L´Europe Découvre l´Afrique. Afrique Occidental (1794-1900) (Paris: Editions Berger-Levrault, 1967), 70.
Mary Louise Pratt. Os olhos do Império. Relatos de viagem e transculturação (Bauru: Edusc, 1992), cap. 2.
Herbert Klein & Stanley Engermann apud Jaime Rodrigues, De Costa a Costa: Escravos, marinheiros e intermediários do tráfico negreiro de Angola ao Rio de Janeiro (1780-1860) (São Paulo: Companhia das Letras, 2005).
J.B. Douville, Voyage au Congo et dans l´Afrique Équinoxiale Fait dans les Années 1828, 1829, 1830 (Jules Renouard, 1832), V. I, 1-6.
A. Stamme fez um acurado estudo provando que grande parte do itinerário de Douville e sua caravana de fato ocorreu. Anne Stamme, "Jean-Baptiste Douville: Voyage au Congo (1827-1830)", Cahiers d'études africaines, 10, no. 37 (1970), 5-39.
Jaime Rodrigues, O Infame Comércio: Propostas e experiências no final do tráfico de africanos para o Brasil (1800-1850) (Campinas: Editora Unicamp, 2000), 97-100. O reconhecimento britânico da independência política do Brasil dependia da garantia de que o tráfico negreiro transatlântico fosse abolido. Em 1825, ocorreu o reconhecimento e em 1826 firmou-se o tratado anglo-brasileiro prevendo o fim do tráfico em um prazo de três anos. Em 1827 ele foi ratificado pela Coroa inglesa, o que significava que ele podia ser praticado legalmente no Atlântico Sul até 13 de março de 1830. Em 1831, o Brasil aprova uma lei que abole o tráfico, mas essa não foi de fato aplicada, reiterando a continuidade do comércio, ilegal agora nos dois hemisférios. Somente em 1850, com a Lei Eusébio de Queirós, o comércio foi abolido.